segunda-feira, 23 de abril de 2007




"A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.

A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória."


Vitorino Nemésio


Home sweet home.... "Sou do tamanho do que vejo e não da mia altura..."
Pudesse eu ter sempre 7anos.. e elevar-me no vento.. rebolar na erva molhada... saltar nas poças de água.. deixar a chuva fria queimar-me o rosto.. entrando por meus poros.. senti-la debaixo da pele.. o cabelo molhado colado ao rosto... 'Vais ficar constipada'... 'Nao...' .. Ou olhar de frente o sol.. desafia-lo.. 'Queima-me... Deixa-me ser um raiozinho teu... consome-me' .. E atirar-me de cabeça contra a água da ribeira.. mergulho.. deixar-me ir ao fundo.. escuro.. procurar os meus próprios fundos.. pairar la em baixo.. sensação de voo... até que a água me puxasse para cima... voltar à vida.. abrir a boca e tentar inspirar toda a atmosfera terrestre.. tentar inspirar a Terra, o sistema solar, a via láctea e todo o universo.. sentir que existo.. ah... poder ser tudo de todas as maneiras
... terei sempre 7 anos.. prometo.





'O que queres que te diga se não sei nada e desaprendo? A minha paz é ignorar. Aprendo a não saber: que a ciência aprenda comigo já que não soube ensinar. Para que queres que te apareça se me agrada não ter horas a toda hora? A preguiça do céu entrou comigo e prescindo da realidade como ela prescinde de mim'

Almada Negreiros


Pudesse eu ignorar-me... "Tudo depende do que não existe".. Pudesse eu permanecer para sempre inerte deitada na pedra quente de meus dias olhando o céu azul fogo 'deixa-me fundir-me numa qualquer nuvem pequenina imperceptível aos humanos..' Pudesse eu cortar os últimos fios da ténue teia que ainda me liga a isso que chamam de humanidade. Pudesse eu cuspir os restos de realidade que ainda teimam em fluir nas mias veias. Pudesse eu Ser-Me...

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quarta-feira, 18 de abril de 2007




'Nem sempre o Mistério está fora do alcance da mão, como o País estrangeiro. Por vezes ele viaja para ca, enconsta-se as decisões materiais de um dia vulgar; e surge, subita e absurdamente, no meio de uma acção do quotidiano. Descuidados, nessa altura, chamamos ao mistério erro e rapidamente o eliminamos.'


Por onde andarás tu mistério meu? ... Eu que passo a vida a errar... a errar-me.. mas os mistérios... hmmm... esses não os eliminarei.. por mais que doam...