segunda-feira, 24 de maio de 2010

Há sempre uma noite em que de mansinho fugimos de nós.
Há sempre um rasgar de algemas e um salto de dentro do sono, para acordar dentro de um sonho.
E é com um olhar e um sorriso que apagamos o mundo e tudo quanto há à nossa volta, para ficarmos mais perto do céu.
E é à lua que pedimos uma alma emprestada.
E é com estrelas que colamos os pedacinhos soltos do coração.
E é com volúpia que me deito ao lado de mim mesma.
Adormeço.
Rasgo o casulo, espreguiço as asas, bebo a luz da aurora e voo livre, de encontro à paz.

Tudo o que escrevo é para mim.
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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Há dias em que nego a tristeza.
Outros dias há em que a tristeza me nega e me toma por sua, sem pedir licença.
Faz-me acreditar que nunca serei boa em coisa nenhuma, que estou destinada a ser sempre medianamente suficiente em algumas coisas.
Sussurra-me ao ouvido que sou uma farsa e tremo de medo que os outros vejam cair a máscara que nem eu sabia ter no rosto.
E sinto-me mais um parvo alegre, do qual todos sorriem à sua tolice, de quem anda com a cabeça na Lua, a sonhar com mundos que não são seus.
Tenho ciúmes de tudo o que eu gostaria de ser e acabo por ser nada que valha a pena gostar.
E não sirvo para viver nem dentro das histórias, nem dos poemas, nem das fotografias.
E dou-me conta de que a única coisa que sei fazer é afastar de mim as pessoas de quem gosto mais.

Declaro que desisto. Do que não sei ser. Do que não sou. De mim.
Fecho o casulo e faço-me larva.

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Há sempre qualquer coisa de ti, que vive dentro de mim.
Há sempre vestígios dos teus lábios, que se alimentam da minha luz.
Há sempre traços das tuas mãos, que fazem das sombras a casa onde habito.
Há sempre um rio que não desagua, uma melodia desafinada, uma pintura vazia, um novelo de nós que não se desatam, a metade de um abraço que fica sempre por dar.
Há sempre o teu eco, que tece o meu horizonte.

Tudo o que eu escrevo, é sempre para ti.
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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Como o rouxinol abracei em meu peito o espinho de uma rosa.
E pedi ao coração que largasse o que há em vão.

Como o rouxinol cantei noite inteira, até perder a voz.
E pedi ao coração que deixasse o espinho entrar mais fundo.

Mas do coração não fluiu sangue, nem água, nem lágrimas, nem nada.

E, quando o horizonte se fez manhã, a rosa floresceu murcha, fez-se pó e fez-se vento.
(Só no coração ficou o espinho, junto aos outros que por lá habitam.)
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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Partiu e ninguém sentiu a sua falta.
Não houve abraços, nem beijos demorados, nem uma lágrima marota no canto do olho.
Levou na mala só os braços vazios.

Saiu no alvor do dia, sem mapa nem bússula, guiada pelo ritmo dos seus pés em movimento.
Atirou as chaves ao rio e a mala aos pardais.

Trocou as horas por flores e das flores fez palavras.
Semeou as palavras ao vento e do vento colheu o silêncio.
Do silêncio nasceu a música.
Na música enlaçou-se a dança.
E dançou... dançou... e dançou... até adormecer embalada num rodopio.

Acordou, espreguiçou-se, esfregou os olhos e abriu a janela.
E deu-se conta de que nem sequer chegara a partir.


A manhã é sempre mais bela.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pergunto ao espelho:
- Que fazer quando se gosta sem ter a noção de que o amor tem fim?
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domingo, 2 de maio de 2010

Pergunta-me a Solidão:

- Que há lá fora que não tenhas aqui dentro?
É mais fácil viver dentro de um livro de histórias.
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"Qual dos dois ganhará a luta no teu coração?
- Aquele que eu alimente."

Lição nº zeromil zerocentos e zerenta e zero:

Não adianta, não vale a pena, é inútil, lamentar e pedir desculpas quando se sabe que nada vai mudar.
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sábado, 1 de maio de 2010

A Solidão pousou as suas pesadas malas, vazias como as levara.
Bebeu-me as lágrimas e os olhos a longos tragos.
E abriu uma gaveta e plantou lá nascentes e ribeiros e rios e mares.
Mandou-me ir na corrente.

Mas no meu mar revolto, desenhei as ondas ao contrário, roubei-lhes a espuma e escondi-a no bolso, soprei-as de encontro ao horizonte e tapei a luz do sol com um castelo de areia.

E, confusos, vieram os peixes todos à tona, as algas, os corais, conchas e pedrinhas coloridas, os caranguejos e as tartarugas.
E cercaram-me as gaivotas, batendo as asas descontentes com tamanho alvoroço.
(Mas, ao verem tanto peixe, agradeceram-me o almoço!)

E eu pirei-me de mansinho,
mais vale voltar para o meu cantinho,
que eu sou marinheira de alguidar,
E não sei ler o mar!

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